segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Comentário de Profº Clovis Oliveira
sobre artigo da Z.Hora de 3/12/11

Prezados jornalistas Humberto Trezzi e Nilson Mariano

       Remeto este e-mail com o objetivo de comentar um aspecto específico da reportagem da Zero Hora de 3 de dezembro de 2011, intitulada "Fim do embate - Razões que fizeram greve definhar", sobre a greve dos trabalhadores em educação encerrada no dia anterior, e de autoria dos senhores.
        Não vou comentar o conjunto do artigo dos jornalistas, porque se trata de uma questão de opinião. A preocupação deste meu e-mail é bem objetiva, e diz respeito à frase que está logo na abertura da reportagem, e que reproduzo a seguir:
      "A Praça da Matriz, que nos tempos de Zilah Totta ficava inchada de gente em manifestações do CPERS Sindicato, ontem reuniu apenas punhados de professores sentados ao longo da calçada fronteiriça ao Palácio Piratini, na assembleia geral que decidiu pelo fim da greve".
       Milito no CPERS-Sindicato de 1978 para cá e fiz parte como Vice-Presidente, das diretorias do CPERS-Sindicato, gestão 1984/1987 e 1987/1990, assim como, mais recentemente, nas gestões 1996/1999 (Diretor) e 2008/2011 (Secretário Geral).
        Em função desta trajetória engajada no CPERS-Sindicato, conheço bem a sua história, pelo menos dentro do período por mim assinalado.
          Zilah Totta é uma figura de primeira ordem na história do sindicato e também da educação do Estado do Rio Grande do Sul, com a qual mantive uma relação cordial e respeitosa.
         O período em que se fez mais sentir a influência de Zilah, tanto no CPERS, como na educação gaúcha, inicia no final dos anos 50 e se prolonga até os anos 80, quando foi Presidente do CPERS, na gestão 1981 à 1984.
         Quando assume a Presidência do CPERS em junho de 1981, já haviam ocorrido as duas primeiras greves da história do CPERS, em 1979, e em 1980, ambas plenamente vitoriosas. Durante o seu mandato, houve ainda outra greve em 1982, que terminou com um resultado negativo para a categoria.
         No segundo semestre de 1981, já no mandato de Zilah Totta como Presidente, uma assembleia geral do CPERS, reunida no Auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e que contou com aproximadamente 500 professores, deliberou a realização de uma manifestação em frente ao Palácio Piratini, para divulgar reivindicações.
         No momento da manifestação, uma parte dos professores que saíram da Assembleia Legislativa se dirigiram para a frente do Palácio Piratini, onde foram confrontados por um destacamento de soldados da Brigada Militar armados com fuzís engatilhados e apontados diretamente ao peito dos manifestantes, criando assim uma situação extremamente perigosa, esvaziada a seguir pela ação de um oficial, que retirou os soldados dali. 
           Esta foi a primeira manifestação de rua da História do CPERS, e também a única realizada durante o período em que Zilah Totta exerceu a sua influência no Sindicato.
          Embora tenha sido uma manifestação combativa e corajosa, com as lideranças do CPERS, como Tereza Noronha (que faleceria em acidente de automóvel alguns meses depois), expondo os peitos à uma distância de um metro dos fuzís, ainda assim foi pequena, restrita à algumas centenas de manifestantes.
        Para completar este depoimento, é preciso dizer que  não ocorreram outras manifestações da categoria na Praça da Matriz, até o final do mandato de Zilah Totta.     
         As manifestações massivas na Praça da Matriz iniciam a partir da greve de 1985, quando passeatas de  mais de 15 mil  professores dirigiram-se para lá partindo do Colégio Júlio de Castilhos, do Gigantinho ou da Praça da Alfândega. Na greve de 1987, as manifestações na Praça da Matriz continuaram se dando, culminando com a instalação do acampamento em junho de 1987. De lá para cá, acho que não existiu um ano sequer em que os trabalhadores em educação não tenham estado em grande quantidade na Praça da Matriz.
        Sem dúvida, devemos ser os principais usuários da Praça da Matriz e a respeitamos muito. Lembro que o acampamento de 1987 mantinha programas de recreação para as crianças das famílias que moravam nas imediações e que depois, quando o acampamento foi desmontado, contratamos uma empresa especializada para recompor os jardins onde colocamos as barracas. 
            Quero que os jornalistas entendam que o meu objetivo não é retirar a importância que Zilah Totta teve para a História do CPERS, mas sim caracterizar que ao longo da sua História, o Sindicato viveu momentos distintos, marcados por mudanças importantes ocorridas na conjuntura nacional, e que a participação de Zilah Totta no Sindicato foi em um período anterior àquele onde ocorreram as manifestações dos professores na Praça da Matriz.
            Por último, declaro que estive na Assembleia Geral do CPERS de 2/12/2011, onde inclusive usei da palavra no momento da avaliação. Lá estavam aproximadamente um milhar de trabalhadores em educação. Este número é muito pequeno para um sindicato que já fez assembleias com mais de 20 mil professores. É verdade, o CPERS perdeu muito da sua força e da sua capacidade de luta mas, ainda assim, éramos mais do que "punhados de professores sentados ao longo da calçada". Para isto basta ver a foto que ilustra a própria reportagem.    
            Desde já, coloco-me a disposição dos jornalistas para qualquer esclarecimento.
            
               Cordialmente,
               Em 7/12/2011
               Clovis Oliveira, professor de História e membro do Conselho Geral do CPERS-Sindicato.

Um comentário:

  1. Enquanto a base não se moblizar para reformular completamente as políticas e posturas que definem e mobilizam o CPERS, será assim e para pior...Até que fiquem de fato somente um punhado de professores na praça de Matriz e daqui mais alguns curtos anos, no magistério estadual.
    Já que o nobre colega tem a trajetória de manifestações descritas tão bem em datas e detalhes, que tal fazer uma descrição dos motivos que levaram a categoria(base) a abandonar e desacreditar no CPERS?
    Creio que em 3 linhas seriam descritos os motivos.
    Fica essa indagação e proposta de reflexão...

    ResponderExcluir